Diário de superação

Essa sou eu hoje depois de 14 anos.
Ensaiei varias vezes em escrever, mas achava que colocar as palavras no papel iriam só me machucar mais e mais, mas acreditava que a exposição iria ser pior, eu mesmo me julgava incapaz, e o projeto foi abandonado.
Mas estou eu aqui pra contar minha história e que sabe sirva pra alguma garota, mulher ou até homem que precise de ajuda.
bom vou começar do começo, rs. O começo que eu sei.
Me lembro da minha infância com mais ou menos 5 ou 6 anos morava na zona sul de São Paulo no bairro do jardim Miriam, periferia de são Paulo, na casa de 2 quartos cozinha e um banheiro esse do lado de fora da casa, eu meus três irmãos, minha mãe biológica, meu pai adotivo e minha mãe adotiva, ate esse momento eu não entendia nada, acreditava que era filha única e que aqueles três eram meus primos, era o que minha mãe adotiva falava, nossa diferença de idade era de um ano.
vendo hoje realmente éramos muito parecidos, mas quando adultos são incisivos em suas afirmações as crianças acreditam fielmente, e eu não era diferente, porém sempre fui um tanto questionadora em tudo.
Meus irmão falavam -Você não é nossa prima Sandra ( não gosto desse apelido rs) você é nossa irmã, brigávamos feio pois eu não aceitava essa situação, como assim eu era irmão deles, eu não.
Fomos crescendo e eu nunca quis acreditar nos meus irmãos.
Vivíamos num lar extremamente violento, um alcoólatra, uma mulher que tinha graves problemas mentais, uma mulher jovem sem instrução abandonada com seus 4 filhos, sofrendo todos os tipos de violência,
Um fato me marcou muito foi estava como as muitas vezes passando privações de alimentos e nesse dia, as duas mulheres nos olharem e falaram vão dormi, pois dormindo não sente fome. Minha barriga doía muito e eu chorei baixinho pois minha mãe adotiva me batia se me ouvia chorar, porém quando olhei meu irmão, estava sentadinho, esperando a janta, eu corri e fui pega-lo, ela me viu. Eu apanhei mas não deixei meu irmão ali, abracei ele até nos dois dormimos ali duas crianças com fome e medo.
No outro dia foi uma festa minha mãe biológica arrumou um trabalho num lugar onde ela levava comida que não queriam mais , eu tinha 6 anos, era esperta, tinha que ser, pra sobreviver e pra ninguém machucar meus irmãos mais ainda.
Naquela noite foi a primeira vez que comi estrogonofe, eu fecho os olhos e lembro como foi bom, eu e meus irmãos, éramos felizes em nossa inocência, brigávamos quando os adultos minha mãe biológica falava pra eles que ela era minha mãe e que eu não queria chamar ela de mãe, eu ficava revoltada e falava que ela era minha tia e a outra era minha mãe e meu pai meu pai.
Já era tarde todos tinham ido dormir com suas pancinhas cheias, coisa que a muito não fazíamos, quando eu comecei a ouvir gritos, sim muitos gritos, era minha mãe biológica, meu pai estava batendo muito nela, socos e mais socos, chutes, meus irmãos chorando com muito medo e minha mãe adotiva incentivando o espancamento, e pedindo pra ele expulsar ela e meus irmãos de casa.
Eu então com meus 6 anos corri liguei 190 e falei que meu pai estava batendo muito na minha tia e chamei o vizinho, era tanto sangue, muito mesmo, a policia veio e naquela noite, me separaram dos meus irmãos, eles foram pra rua, eles tinham 5, 4 e 3 anos. Eu fiquei ela me olhou e disse que não podia levar uma menina pra rua com ela. Nessa época ela não sabia pois era analfabeta, mas o irmão e a cunhada já tinham me registrado no nome deles, por orientação da mãe dela, minha avó materna.
Ficamos afastados por tanto tempo, entre idas e vindas, ela sem destino certo ficava uns dias numa casa, servindo de empregada, mas com três crianças ninguém quer, né.
Nessa época pensão não era como hoje, teste de paternidade muito menos.
Detalhe é que eu não sei quem é meu pai biológico, mas tá tudo bem.
Fiquei sozinha com um alcoólatra e uma pessoa com doença mental grave e extremamente agressiva.
Eu ficava trancada o dia inteiro em casa com portas e janelas fechadas e um penico, passava privações de alimentos e espancamentos frequentes, todos familiares sabiam, mas nunca fizeram nada.
Aos 8 anos tentei fugir de casa, peguei vários ônibus, sai sem destino eu nunca tive a quem recorrer, e acabei voltando, na volta descobri que ela havia tentado o suicídio e me culpou, eu na época tinha cabelos bem compridos, meu castigo foi, que a partis daquele dia ela não faria mais nada por mim, eu lavaria minha própria roupa, faria minha comida, eu estaria por conta, negrinha, era assim que ela se referia a mim, nesse dia ela mandou cortar meu cabelo na maquina zero, eu chorei muito, meu Deus como doia minha alma, eu não sabia lavar roupa e acumulei num balde, quando fui lavar, ela tinha jogado tudo fora. EU  não tinha calcinhas, eu quase não tinha roupas,
As pessoas viam meu pai alcoólatra bebia e cai nos bares, ela me fazia ir busca-lo, ele com quase 100 kg e 1.90 m eu com 8 anos muito magra, pois a comida pra mim passou a ser regrada.
Nunca fui santa, isso nunca Eu sempre fui uma criança e graças a Deus era esperta.
O pai da minha mãe adotiva pernambucano um velho crente que adorava pregar santidade, brigava com a mulher ia pra casa da filha, passar uns dias, até ai ok.
Eram os piores dias da minha vida, eu não dormia de tanto medo, medo demais, ele ia na minha cama e tentava retirar meu shorts e minha calcinha todas as vezes, oferecia dinheiro, ai eu aprontava com ele até ele ir embora, ele falava umas mentiras ´pra minha mãe e eu apanhava muito, mas muito mesmo. " ele falava se tivesse deixado eu passar a mão não precisava nada disso"
Foram varias vezes, varias tentativas de estupro, e pior minha mãe colocava ele pra dormir no mesmo quarto que eu. eu dormia no chão e ele na minha cama.
Aos 11 anos nos mudamos e eu já era tão desacreditada na vida, uma criança triste, sempre sozinha, nunca fui em excursão de escola festa de aniversário ou tive roupas ou tênis bonitos, nessa época eu nem calcinha tinha, esperava minha mãe jogar as meias calças fora pra eu cortar as pernas pra fazer calcinha, mas o que tá ruim pode sim piorar, kkkk.
EU FIQUEI MOCINHA, minha menstruação veio, e com ela cólicas horrendas, Eu não tinha absorvente (luxo), mas minha mãe tinha um estoque daquelas coisas, eu tinha que pegar, como não sabia, o quarto era trancado na chave.
Eu esperei um vacilo e naquele armário que parecia mais o paraíso dos absorventes eu peguei logo dos pacotes e escondi, o medo de apanhar era tão grande que me deu diarreia, dor de cabeça fora a cólica, mas tinha um problema, como usava aquilo? Coloquei o lado que cola na minha pele, me sujou e doeu muito, 😂, seria cômico  se não fosse trágico pois eu estava na escola, minha roupa ficou toda suja, eu amarrei a blusa e sai 🏃, cai e entrou uma pedra no meu joelho, uma dor horrível.
Rasguei um pano velho qualquer e coloquei como absorvente e outro amarrei no joelho, chorei muito muito, tinha inveja meu Deus era isso, porque ninguém me queria, eu era muito feia, negra suja, era porque meu pai não me quis, eu quase não via mais meus irmãos, minha mãe biológica tinha se casado e tido outro filho, mas não quis arrumar confusão tentando me levar.
Ela apanhava do cara também não era feliz, mas tinha uma casa.
Meu joelho começou a sair uma coisa amarela fedida eu fui no posto sozinha, o médico no começo não queria me atender, perguntou cadê sua mãe? falei tá trabalhando e seu pai também, tem alguém pra vir com vc? Eu disse não. Eu ia embora já mancando quando ele fez eu prometer ir todos os dias pra fazer curativos. Fiquei indo durante muito tempo até fechar, tenho uma cicatriz  grande até hoje.
Ninguém, nem meu pai nem minha mãe perguntaram o que era aquilo.
As brigas em casa eram constantes e eles sempre me culpavam por estarem  naquele casamento.
Aquele foi um ano muito difícil, fomos morar numa casa abandonada, sem água encanada, luz elétrica, sem banheiro ou as mínimas condições de habitação, minha mãe foi trabalhar em uma fazenda em Amparo, onde só voltava a cada 15/15 dias e eu ficava com meu pai, passávamos fome e eu aos sábados ia pegar sopa num projeto social e levava pra casa, ele cada vez mais afundado na cachaça, ate que um dia quando ela veio no final de semana o primo dela um drogado assaltou a nossa casa.
Ela entrou em um surto psicótico e queria matar e fazer justiça a qualquer custo, o pai dela que morava numa chácara em Embu Guaçu ofereceu-se pra arrumar uma chácara para meu pai ser caseiro e assim não pagaria aluguel e ela sairia daquele lugar afim de evitar uma tragedia maior e assim foi feito.






 

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